…”Eu queria que ficasse bem claro que não tinha verdadeiramente vontade de fazer esta tournê”. Incomodava-me o fato de aceitar dinheiro para fazer demonstrações de Buda, mas eu tinha que viver e propunham-me 100 dólares por semana com todas as despesas pagas. Para o período do pós-guerra, no Japão, era uma fortuna.



… Eu era forte nessa época, podia ter sido campeão de atletismo mas a única coisa que me interessava era o Karate.
O Wrestling All de Chicago era um pavilhão imenso com capacidade para receber 15.000 pessoas. Nessa noite ele estava cheio. Great Togo apresentava-me aos espectadores, falava em inglês e eu não compreendia uma palavra do que ele dizia.
Estava previsto eu fazer a demonstração das minhas qualidades de Karateka. Tinha previsto começar por partir uma tábua com uma polegada de espessura, depois continuar até cinco, umas em cima das outras… Mas logo que me apresentaram as tábuas a surpresa foi total. Tratava-se de duas tábuas com cinco polegadas de espessura, cada!. Compreendi, imediatamente, que a barreira da língua podia custar-me muito caro… A primeira tábua partiu logo sob o efeito do meu primeiro golpe e Endo perguntava-me se eu queria continuar… Pegou na segunda tábua com as duas mãos e recuou uma perna para reforçar a sua posição. Era a primeira vez que eu tentava partir uma tábua, tão espessa, segurada verticalmente. Após um breve instante de concentração, parti esta segunda tábua com o primeiro Tsuki. Eu devia efetuar o teste de quebra seguinte com tijolos, só que eu ignorava que os tijolos americanos eram muito mais duros que os tijolos japoneses. Para piorar a situação, não tinha um suporte duro para os poder apoiar e o solo estava coberto com um tapete grosso e mole. Bati uma primeira vez em Shuto, sem sucesso. Fiz uma nova tentativa cujo resultado foi idêntico. Decidi então tomar mais tempo para me concentrar e uma calma estranha começou a invadir-me. A raiva e a impaciência deixavam pouco a pouco o meu espírito, enquanto uma nova força me penetrava… Após ter conseguido, fui aplaudido como nunca antes.
De volta ao balneário, conheci um homem que ali esperava por mim… Examinou a minha mão direita com muito cuidado e disse “gostava que as mãos do meu filho fossem tão fortes como estas”. “Esse homem era Jack Dempsey, um dos maiores pugilistas de todos os tempos”.