O seu programa de treino é de uma simplicidade admirável: corridas nos regatos; meditação nas cataratas; exercícios técnicos e endurecimento (árvores, pedras, etc.). Á noite estudava a biografia do seu grande herói e modelo: Miyamoto Musashi, o maior Samurai de toda a história do Japão.
… “como já disse, após a segunda guerra mundial, consciente de não ser qualificado para trabalhar nos negócios e incerto em relação ao meu futuro, decidi dedicar-me ao Karate”. Dirigi-me imediatamente para as florestas longínquas do monte Kiyosumi, onde fiquei um ano e meio a treinar sozinho. Penso que todos aqueles que se dedicarem totalmente a uma causa, devem passar por um período de isolamento deste gênero.
O meu treino quotidiano começava de manhã, muito cedo, com uma sessão de meditação e purificação espiritual debaixo das águas frias de uma cascata. Depois, voltava para a minha modesta casa correndo, para continuar o treino. A manhã era dedicada ao reforço muscular e respiratório… Corria pelas montanhas, deslocava enormes troncos de árvore, mergulhava nas águas geladas… Este primeiro treino da manhã terminava com uma sessão de meditação. A tarde era dedicada à prática do Karate… Tinha instalado Makiwaras nos troncos das árvores e batia durante horas com os punhos. Exercitava-me, também, a quebrar objetos, enquanto o estado das minhas mãos o permitisse.
Durante o tempo que estive nas montanhas, não passava um dia, sem que me entregasse a este treino violento e duro, qualquer que fosse o estado do tempo. Quando caía a noite nas montanhas, é que eu podia compreender a absoluta profundidade da minha solidão. Rodeado pelo silêncio, acendia uma vela na minha pobre cabana e dependurava no muro uma folha de papel branco na qual tinha desenhado dois círculos. O da direita, “sei”, simbolizava a ação e o da esquerda, “do”, a falta de. Observando estes dois círculos, mergulhava numa profunda meditação… Esta prolongada estadia, longe da civilização, permitiu-me aumentar, de forma considerável, o nível do meu Karate, mas, sobretudo, atingir um estado mental muito particular que não tinha nada de comum com o anterior”.